terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ATITUDE


Ensinando a viver e vencer, Cesar conta sua história
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Por Fabio da Silva Barbosa
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Cesar Cordeiro, 38 anos e uma rica experiência de vida. Esse verdadeiro guerreiro, que morou durante quase toda a vida na Rocinha, nos conta um pouco de sua história e de sua comunidade."Acho a Rocinha um ótimo lugar para se viver."Pag 3
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Cesar Cordeiro Beariz, 38, morador da Rocinha, nasceu em Botafogo, Rio de Janeiro. Filho de Joaquim Rodrigues Bearis (português) e Narcizi Cordeiro (paraibana), Cesar foi um verdadeiro prodígio nos esportes radicais. Quando pensei nesta seção, lembrei logo deste nome como sendo perfeito para inaugurá-la. Mesmo perdendo a visão aos 19 anos, este guerreiro conseguiu dar a volta por cima e demonstrar que tudo é possível quando se tem força de vontade. Um verdadeiro retrato do que é ter Atitude..Como você entrou nos esportes radicais? Nos tempos de escola, conheci uma galera que tinha uma situação financeira melhor que a minha e eles curtiam andar de bicicleta. Foi aí que comecei no bicicross. Um tempo depois, enquanto trabalhava de caseiro, encontrei uma moto, daquelas pequenas, para minicross, largada na garagem. Pedi aos donos da casa e eles me deram.
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Quantos anos você tinha nessa época?
Treze anos.
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O que veio aseguir?
Depois quis uma moto melhor para entrar no motocross e comecei a juntar dinheiro. Trabalhava carregando sacos de golfe. Chegava ao campo as 7:00h para conseguir carregar pelo menos três sacos de tacos por dia.
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E conseguiu?
Aos 14 anos já tinha minha moto e comecei a dirigir carro. Entrei para o motocross como queria e comprei um Opala para o Stock Car. Aí meus pais se separaram e fui trabalhar de Marrequinho (empacotador, nos Supermercados Sendas). Passado um tempo, trabalhei como overloquista da Company. Juntei dinheiro e comprei uma moto melhor. Uma YZ250 Yamaha. Apaixoneime por Motovelocidade. Mas nisso, estava envolvido, ao mesmo tempo, com outros esportes, como o surf e o skate.
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Mas você se especializou em mo-tovelocidade?
Pratiquei vários esportes, mas a motovelocidade era minha especialidade. Corri em diversas competições. Tirei o primeiro lugar no Campeonato carioca em 86. Com 15 para 16 anos. Comprei outra moto com o prêmio. Tirei 2° e 3° lugares no campeonato Brasileiro. Tirei o 2° lugar na categoria estreante. Lembrando que, para um cara que mora dentro de comunidade, era muito difícil montar uma moto. É muito caro.
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Você chegou a receber alguma proposta na área?
Recebi uma proposta da Yamaha, mas em janeiro de 1990, entre 20h e 21h, no Alto da Boa Vista, minha vida mudou. Sofri o acidente que me tirou a visão. Depois de incontáveis acidentes, aconteceu este, que me impossibilitou de vez de praticar esportes radicais como vinha praticando. Estava em alta velocidade e bati de moto. Diagnóstico: Hemorragia e afundamento no globo ocular.
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O que mudou?
Tudo. Minha mulher me deixou, os amigos sumiram (chegavam a passar do meu lado em silêncio para eu não perceber que eram eles) e perdi o emprego. No início foi muito difícil, mas comecei a correr atrás e a visitar médicos. Chegando ao Instituto Benjamin Constant conheci os cursos que eram oferecidos. Fiz o Braille e o Soroban que são obrigatórios. Fiz também Datilografia, Encadernação, Massoterapia e Auxiliar de Radiologia. Fui considerado pelo setor de reabilitação como aluno exemplar. Fiz todos os cursos em quatro anos. Morei com uma pessoa (também deficiente visual) com quem tive uma filha, mas atualmente estou separado. Hoje atuo na Massoterapia e como Auxiliar de Radiologia. Faço também uns freelancers em uma gráfica que fica próxima a Rocinha como encadernador. Sinto-me completamente habilitado para exercer minhas funções. E bola para frente.
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Sobre a Rocinha
Por Cesar Cordeiro
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A Rocinha tem esse nome porque seus primeiros habitantes faziam hortas e criavam animais para o seu sustento. Os que chegaram depois se referiam ao lugar como Rocinha por seu aspecto rural. Uma mini roça. Aí foram fazendo casas até chegar como está hoje. Nos anos 80 e 90 a favela cresceu muito. Abriram creches, centros culturais, escolas e um farto comércio. Muitas melhorias foram feitas no que diz respeito à pavimentação e iluminação. A água que eu tinha de carregar até em casa já chega pelos encanamentos. Tem também a escola de samba Acadêmicos da Rocinha, que surgiu da união de dois blocos locais. Vivo muito bem na comunidade.

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