sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ocupação Mama África luta por seu direito à moradia

Por: Fabio da Silva Barbosa
Foto: Fabio da Silva Barbosa
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No bairro de São Domingos, em Niterói, existem algumas ocupações urbanas que vêm lutando por seu direito a moradia. A Ocupação Mama África, localizada nos números 48 e 50 da Rua Passos da Pátria, é uma delas e vem se organizando para garantir sua permanência no local. André de Paula, militante da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST), que já possui um histórico sólido na luta pelos direitos humanos e pelo direito a moradia, é um dos apoiadores da causa e advogado da ocupação.
São aproximadamente 36 famílias morando no lugar. Em sua maioria mulheres, das quais, boa parte veio de um orfanato. Celina dos Santos, 32, passou por essa experiência e se dispôs a contar um pouco de sua história. "Vivi desde que era bebê no orfanato. Quando completei 18 anos fui jogada na rua, sem nenhuma preparação para sobreviver no mundo. Eu e minhas companheiras de orfanato paramos na Ocupação Mama África. Agora o Prefeito quer nos descartar igual a lixo. Procuramos a FIST. Ela que nos dá apoio. Estamos conseguindo também apoio do Sindicato dos Petroleiros e do padre da igreja local. Agora iremos tentar buscar o auxílio dos professores e alunos da Universidade (da UFF) que fica aqui perto."
Mas a história da ocupação é ainda mais antiga. Quando as meninas começaram a chegar, já haviam moradores como Maria Alves da Silva, 64. A ocupação, para ela, tem um forte vínculo com a própria história de vida que construiu. "Vivo aqui há muito tempo. Meu filho chegou com 10 anos e hoje já é um homem. Ele estudou, eu me aposentei..."
No sábado, dia 13, aconteceu uma confraternização no lugar, onde compareceram vários movimentos e representantes de outras ocupações para prestar solidariedade a luta. Cada um falou sobre sua experiência pessoal e de como poderia colaborar.
Outra pessoa que dá todo o apoio a ocupação é a cantora Andréia Dacal. Conhecida por fazer um Reggae Militante, ela nos falou sobre o problema. "As ocupações dos casarões e seu uso social estão aquém do ideal, é preciso ainda conquistar infra-estrutura, acesso a ferramentas que contribuam para o crescimento e desenvolvimento das potencialidades culturais e produtivas da comunidade, para que isso se some na resolução dos problemas conhecidos e inerentes a vida construída em meio à marginalização dos direitos civis, pertencentes a todos, independente da origem. No entanto, sabemos que o Estado brasileiro pouco ou nada quer saber dessa parte da história. Vivemos em um período critico para as lutas sociais. Onde, por trás do véu da social democracia e do estado civil de direito, se esconde a barbárie, violência, racismo e preconceito entranhado nas veias de vários segmentos da sociedade em todas as escalas de poder, como herança ideológica da falsa moral pregada no período da colonização, que encontrou em argumentos absurdos, motivos suficientes para garantir quase 400 anos de exploração humana, primeiramente com os indígenas e sucessivamente com os africanos."
Para finalizar ela nos falou sobre seu carinho pelos moradores. "São pessoas incríveis e me sinto extremamente grata por poder utilizar um pouco do conhecimento que adquiri e tive acesso, em prol da conquista por mais espaço e representatividade por parte das mulheres da Mama África. Firmamos nossa amizade, sendo tudo isso alimento fundamental para começamos essa relação construtiva e duradoura,  motivada pela vontade maior de ver em nossa cidade a manifestação da justiça social e união, materializada com a conquista por parte da comunidade, da posse definitiva de suas casas , já conquistadas por excelência  e direito pelo tempo, resistência e história construída, já que a comunidade está consolidada ha mais de 20 anos, com vários adolescentes nascidos no local, filhos das mães mulheres, ontem meninas, em sua maioria órfãs de seus pais e do Brasil que ignora , ameaça e oprime a população por conta de interesses econômicos, comprometimento elitista e negligenciando as feridas contidas em seu passado."

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