segunda-feira, 26 de abril de 2010

Vida de artista ou artista da vida?

"Hoje vivo com meus sonhos"
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Por: Fabio da Silva Barbosa
Fotos: Fabio da Silva Barbosa
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João Bastos Figueredo, 75, Morador da comunidade Peixe Galo, em Jurujuba, Niterói, é um artista completo. Participa do grupo teatral "Nós do Morro", já atuou em frente às câmeras e tem dois livros escritos, que pretende publicar assim que tiver oportunidade. Dono de uma voz muito agradável adora cantar. Sua identificação com a arte e a cultura é tão notável quanto sua história de vida.
"Nasci em um lugar que nem tem no mapa. Grapiapunha. Fica lá para os lados de São Pedro da Aldeia. Na época era roça mesmo. Não tinha a cidade que tem hoje em volta. Nasci em uma casinha de sapê."
Quando sua mãe morreu, o pai distribuiu os filhos entre os parentes. João foi para casa do avô. Morou lá por um tempo, até que apareceu um circo. Ele lembra que era um circo pequeno chamado Circo Pelanca. Ele se encantou pela contorcionista Maria Rosa. "Com oito anos saí pelo mundo atrás dela. Arrumei uma trouxinha com minhas poucas roupas e fui... Procurando... Até hoje não achei Maria Rosa."
"Na estrada passei por um cara com um burro que carregava um monte de coisas. Ele me perguntou aonde ia. Disse que não sabia." Continuou João. "Ele me colocou na cesta que o burro carregava. Um jacá. Sabe o que é? Fui para a fazenda que o Roberto Marinho tinha em São Pedro. A babá do filho do Roberto gostava de mim e me adotou. Me levou para a casa dela, em um lugar chamado Eder, no Rio de Janeiro. Me colocou na escola e cuidou de mim, mas o marido dela não gostava da idéia." Com o passar dos anos, o marido da babá a convenceu de devolvê-lo a São Pedro, onde ficou perambulando até conhecer Hernestro, com quem foi morar. "Ficava cortando lenha para os outros, com vontade de ir embora."
Na festa de São Pedro juntou novamente seus panos e pegou estrada. Parou em uma das barracas da festa da cidade. Ficou encostado e o barraqueiro quis saber quem era. Trouxe-o para Neves, São Gonçalo. "Fiquei um bom tempo brincando com as crianças da região, mas achei que estava crescido e fui atrás de alguma coisa que não sabia o que era."
João sorri e continua seu relato. "Todas as pessoas que encontrei foram importantes na minha vida. Nessa nova busca encontrei uma empregada doméstica. Acho que se chamava Jorgina. Ela me levou a uma quitanda no Barreto. Era de Dona Olinda. Eu já devia estar com mais de treze anos. Depois de um tempo, Dona Olinda perguntou por meus documentos. Eu não tinha. Aí ela me registrou e matriculou no colégio. A filha dela, Zita, me levou para trabalhar em uma loja no Rio, onde ela trabalhava. Zita era como minha irmã. Eu tinha de carregar água subindo em uma escada em cima da loja. Era uma escada horrível. Dificil de subir carregando as latas d'água. Só podia comer quando carregasse tudo. Um dia me aborreci. Despedi de Zita e decidi mudar de vida. Fui caminhar e o tempo me educou."
Ele lembrou dos tempos que vieram e das amizades que fez, sempre agradecendo a todos que cruzaram seu caminho. "Rodei de casa em casa. A história é muito longa. Não vai caber tudo no jornal. Morei na rua vendendo bala. Em uma ocasião entrei em uma casa no largo do Marrão, em Santa Rosa, Niterói, para dormir a noite. Acordei de manhã e dei de cara com um grandão que era o dono da casa. Era um médico chamado Gerson. Ele me deu café e me mandou sumir. Quando estava saindo dei a volta pela casa e vi um porão. Pensei na hora: ‘Que sumir que nada. Aqui tá é bom.’ Mas nisso passei pela Rua Itaperuna no mesmo bairro e conheci Nádia, que me deixou tomando conta dos Gemeos dela. Com o tempo ficou chato. Os meninos ficavam me gritando: ‘Ô babá.’ Até na rua. Me lembrei do porão. Naquele porão fiz uma vida. O dono sabia que eu estava lá, mas fazia que não Não era possível. Lá servi o exército, pratiquei esportes...
Aos 19 anos João conseguiu um emprego público e se casou com uma vizinha chamada Zélia. "Ficava vendo ela do porão." Ficou viuvo dela em 98. Seu interesse por arte o fez conhecer algumas pessoas. "Pedi um dia ao Silvio Mori para dar uma olhada em meus escritos. Ele me convidou para participar da série "Carga Pesada". Então minha mente girou e participei de comerciais, de novelas e de filmes. Em novembro fui convidado para o filme do Jabor. Hoje tenho três filhos e dois netos que amo de paixão."
João aguarda novas oportunidades para continuar trabalhando com artes. Contatos com João: 9597-9025.
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Um comentário:

  1. Obrigado pela publicação da materia .
    ass: João Bastos Figueiredo

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