quarta-feira, 26 de maio de 2010

POESIA PARA QUEM PRECISA

*Helena Ortiz

Uma coluna precisa sempre começar falando com o leitor como se fosse a primeira vez. Nunca se sabe em que momento ele pegará o jornal em algum lugar, receberá das mãos de alguém ou o achará no assento de um ônibus, por exemplo. É neste momento que se estabelece a identificação e, quem sabe, a intimidade entre um e outro.
O Impresso das Comunidades chega à sexta edição e isso, convenhamos, não é pouca coisa para o mundo de hoje, essencialmente virtual. É aqui que você tem seu rosto, sua voz e sua região presentes e próximos. Aqui você é notícia, motivo e razão. E a coluna é justamente o momento em que você pára com o que o aflige para deixar-se levar para um outro campo, que é o da poesia, onde tudo é mais profundo, onde as coisas mostram outra face, onde os autores e leitores, que somos eu e você, deixamos de ser aquela pessoa comum e nos tornamos outras, quando emerge uma outra face da compressão do mundo a que pertencemos.
O objetivo da coluna já tinha sido informado no número anterior: recolher e divulgar a produção de leitores. E eis que já recebemos a primeira participação.
Renata Machado Seti, estudante de Comunicação, ativista dos direitos humanos, descendente da nação tupinambá, conforme informa no seu blog http://fragmentosdoinfinito.blogspot.com/
Fui conferir e vi que a moça escreve muito bem, está ligada a tudo o que acontece e relata com autoridade os problemas decorrentes das chuvas recentes, que tantos estragos materiais e humanos causaram no Estado inteiro, mas principalmente em Niterói. Vale a pena!
Agradecemos a Renata pela colaboração, e convidamos outros poetas a participar do Impresso das Comunidades, o jornal que reproduz voz do povo.

ULISSES

Uma multidão de pensamentos abafados pelo tempo;
andam todos próximos, mas são cegos e segregados pelo vento.
Nas calçadas, passos apressados - pés que pisam juntos e não são unidos.
Sombras em movimento, vultos dançantes e olhares desencontrados.
A buzina do carro não assusta, mas furta a atenção,
aprisiona os Ulisses na cidade, como o canto das sereias no mar,
só que no centro não existe mastro para se amarrar:
o naufrágio do eu na cidade, não se pode evitar.
Homens respiram juntos e o único som é o da sua própria respiração.
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