quinta-feira, 1 de julho de 2010

A história de Pepe

Por: Fabio da Silva Barbosa
Fotos: Fabio da Silva Barbosa

Júlio Alejandro, 50, conhecido como Pepe, nasceu em Lima, no Peru, mas foi em Cusco, trabalhando como guia turístico, onde conheceu a arte que mudou sua vida. “Morava na pensão de um povoado chamado Águas Calientes, em baixo de Machu Picchu. Descobri um caminho para as ruínas. Comecei a marcar 5:00h da manhã, para fazer o caminho Inca. Na cidade, sempre vi pessoas vendendo coisas e percebi que era possível conhecer outros lugares através do artesanato. Isso era no início dos anos 80. Antes de guia, trabalhei como cozinheiro sem nunca ter sido. Estava no restaurante na hora que precisaram de alguém para trabalhar. Me ofereci para o cargo, mas não gostei. Era muita exploração.”
Pepe começou a fazer pulseiras de linha, o que aprendeu com um uruguaio que viajava com a filha. “Dava para sobreviver”. Durante esse tempo transitou entre Cusco e Lima e conheceu a brasileira que seria sua esposa. Ficaram no Peru, depois resolveram vir para o Brasil. “Ela aprendeu a fazer as pulseirinhas e juntamos dinheiro para o passaporte, que era caro. Tirado o passaporte em Lima, fomos a Cusco e de lá para a Bolívia. Ficamos em La paz, Cochabamba, Santa Cruz da Serra... Sempre trabalhando com as pulseirinhas”. Dormiam durante as viagens de caminhão e ônibus, e “quando sobrava um trocadinho”, alugavam um quarto, aproveitando para tomar banho e lavar roupas. “Pegamos o Trem da Morte”. Foram 20 horas de Santa Cruz até Porto Quijarro, com apenas uma parada. Dormiam no chão. “Não tinha banco suficiente para sentar, imagina deitar. Isso em 85”

Atravessaram a fronteira com o Brasil e pegaram o trem Corumbá-Baurú. “A primeira coisa que aprendi em português foi ‘Tem que descer’. Esperamos o trem sair e subimos. Na viagem o cara veio recolhendo a passagem. Eu fingi que procurava. Falei que fui roubado e ele disse: ‘Tem de descer’. Aí jogaram a gente e nossas coisas do trem. Passamos a noite em Maringá. Trocamos a estadia do hotel por um par de brincos de prata que trazía para a cunhada. Minha esposa ligou para o pai que, emocionado pela possibilidade de rever a filha de quem não tinha notícias há mais de 4 anos, mandou um trocado. Ele ficou muito feliz, porque achava que ela estava morta. Aí viajamos de primeira classe, almoçamos.. Foi maravilha”.


Chegando em São Paulo, foram até a casa da irmã dela e ligaram para o pai, com quem moraram. “Com um mês ela engravidou e as pulseirinhas já não vendiam tão bem. Trabalhei em uma companhia de mudanças e fui garçom de discoteca. Nasceu a criança.” Nisso Pepe conheceu um Peruano na Praça da República que vendia bijuteria e trabalhou com ele. Veio para o Rio e foi para um Sítio em Saquarema. “Chegamos lá e vimos que ele não era dono do sítio. O dono era um alemão. Fiquei dois ou três dias e aluguei uma casa nas proximidades.
Em Saquarema se separou da esposa e da filha que já tinha 2 anos. “Aí comecei a viajar pelo Brasil. Viajava também para o Peru. Até os oito anos minha filha recebeu minhas visitas. Depois morei sete anos na Colômbia. Nessa época já tinha aprendido a trabalhar com arame e lá aprendi a mexer com pedras. Em 2001 voltei a Lima, e conheci uma professora com quem sou casado. Em 2005 voltei ao Brasil para procurar minha filha. Conseguimos nos reencontrar e hoje já tenho uma netinha.” Ao ser perguntado se largaria a vida de artesão ele afirma que não, porque, além de gostar muito do que faz, teria em troca empregos que pagam mal, além de um sistema de horário que desaprova. Outra atividade por qual tem muito apreço é cantar: “Gosto de cantar. Só de onda”

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